Entrelaçadas




Há um tempo atrás pernas entrelaçadas não aqueciam o coração dela. Arrisco a dizer que a sensação de liberdade - durante muito tempo procurada e almejada - não fazem mais sentido.


Houve um tempo em que a vida era mais simples sem "bom dia" ou "boa noite". Mas agora ela corre atrás das complicações que essas saudações podem causar.

Até certo tempo viver para si era mais seguro do que viver para dois. Hoje em dia - em pleno dia - ela faz planos para o próximo fim de semana e para a vida.


Assim, tudo misturado, meio torto, meio complicado. 


No meio desse furacão todo, as pernas entrelaçadas dão a dimensão exata do que ela quer: ter a liberdade para se prender a alguém. 

Alguém que nunca lhe pediu nada. E que apenas deixou ela chegar e ficar.

Até outro dia o "querer ficar" ao lado de alguém que nunca exigiu “o ficar” era uma afronta: "Tanta gente pede, por que ele não?". 

Decidir entrelaçar as suas pernas a alguém que a deixava ir embora, mas que ao mesmo tempo pedia para ficar, foi a decisão mais insana da sua vida.

Mas qual sanidade existe nessas coisas de amor e de se entregar ao outro? Nenhuma.

Ela então resolveu pular... no escuro, sem paraquedas, sem certezas, sem dias e horários. Sem horas marcadas ou juras de amor.

Um dia de cada vez. Cada dia mais um pouquinho. Procurando um a perna do outro no meio da noite só para ter a certeza que o outro ainda está ali. 



Backspace





Esse ano pouco escrevi. Quase nada. Nada mesmo. Nem numa folha de caderno qualquer. Mesmo que não publique todos os meus textos no Blog, sempre escrevi. Sempre foi uma necessidade colocar para fora as palavras não ditas, inventadas, sonhadas, imaginadas.

Meu Blog é o produto final da minha "esquizofrenia". São palavras que me atormentam e assim são arrumadas, todas elas, em um espaço em branco. Costumo sentir as dores do mundo e me entrego nas profundezas do meu íntimo, do meu subconsciente, da minha loucura.

Mas esse ano não escrevi praticamente nada. A não ser esses pequenos textos publicados desde então.

E se existe uma morte horrível nessa vida é se desprender de si mesma. Ficar oca. Vazia de imaginação. Ficar “acordada” o tempo todo. Deixar de sonhar.

Não escrever – para quem considerada fundamental na vida esse ato – é deixar de existir um pouco.

E esse ano deixei de existir por diversas vezes.

Na tela branca do computador eu me perdia, as palavras não saíam e quando surgiam eram apagadas compulsivamente. Usava o backspace.

No fundo, no fundo eu queria era usar o tal do backspace na minha vida. Apagar algumas feridas, desconhecer pessoas, costurar o rombo desse vazio interno.

Então eu apertava o backspace, muitas das vezes, com tanta força, até quase quebrar o teclado.

Não há botão de backspace para a vida. Não há como nos desconstruírmos, somos a soma de todas as nossas tragédias.

Quero agradecer aos leitores frequentes, anônimos e conhecidos. Recebi muitos e-mails de pessoas queridas que cobraram e sentiram falta da minha “esquizofrenia” por aqui. Não vou citar nomes, mas todos foram essenciais para que eu percebesse que por mais que, algumas vezes, me sinta sozinha, aqui neste meu canto querido, eu não estou.

Eu não escrevo para fantasmas. Escrevo para pessoas de carne e osso, assim como eu, que sofrem, que choram, que se apaixonam, que batalham, que vivem. E que por mais que a vida seja dura, ainda temos tempo para sonhar e falar de amor.

Estou com vários temas para o ano que vem. Espero contar com a companhia de vocês por aqui.

Um feliz 2015, até lá!

Com amor

Juliana Dias


A ida







Desde criança sempre tive muito medo de perder as pessoas que eu amo. Seja por opção de cada um, ou pela morte de alguém querido.

Sempre tive muito medo da ida. O “ir embora”, o  “dar o fora”, o partir...

O próprio nome já diz: partida

Te parte

Te quebra

Te leva

Cada pedacinho seu, até seu corpo se desintegrar. Não é fácil ter que ir embora. Não é fácil o “ir embora” de outrem. Mesmo que não haja outra saída.

Só quem já sentiu a alegria da chegada, sabe a dor da ida.

Sabe aqueles “5 minutinhos” a mais de sono que desejamos todos os dias pela manhã? Deveria ter para a vida. Ficar “5 minutos a mais” com aqueles que foram...

Um último olhar, um último adeus, as últimas palavras.

Se ir embora é difícil. Ficar é muito pior.

A morte do amor





Todo amor morre. Sinto em ser portadora dessa triste e inoportuna notícia, mas todo amor morre. Amores bonitos, impulsivos, cúmplices, rotineiros, juvenis, maduros, impossíveis, platônicos, correspondidos: todos eles morrem. Não importa se são bonitos e sinceros: todos morrerão. De forma súbita ou lenta. Mas a maioria morre mesmo é de “morte matada”.

O amor morre na ignorância e estupidez dos seres humanos. Morre na constante busca pela “massagem no ego”, pela satisfação pessoal em querer e ter sempre alguém diferente. O amor morre quando nos traímos: ao que sentimos, ao que queremos, ao que prometemos. Na verdade o amor morre quando a gente trai a nossa essência. Pior do que trair a confiança do outro é trair a nós mesmos. O amor morre nas palavras não ditas. Nas palavras ditas em excesso. Nos exageros de vaidade. Na ausência, e morre na presença de quem nunca está.

O amor vai morrer e todas as lágrimas secarão. Não há porque escorrer lágrimas de saudades ou ansiedade para o que não existe mais. Não há como sentir falta do que nunca existiu. A saudade, assim como todos os sentimentos que vem juntos com o amor, é viva e lateja por aquilo que respira. Não há como correr sangue pelas veias por algo que morreu. Por um cadáver de sentimento.

Todos os amores morrem e vão para o céu dos sentimentos ou para um lugar bem escondido dentro da nossa alma. A alma guarda e suporta para quem sabe um dia - esse amor - volte a nos fazer acreditar que de alguma forma, a próxima vez será eterna.


Quando é amor...




Um “viva” ao amor que não nos sufoca. Que não nos prende a todo custo. Aquele amor que não “precisa está perto para estar junto”, que mesmo longe compartilha o melhor da vida com você.

Amor que é amor, não precisa de explicação, justificativas ou razões para existir. A gente sente, e pronto. Amor que não nos tira o sorriso, que não nos cobra a perfeição ou coerência. Aliás, coerência para quê?

Amor quando é amor mesmo, entende, espera, supera, sobrevive, resiste. Apesar de tudo, apesar do tempo e apesar dos pesares. Amor quando é amor, não existem “donos”, existem cúmplices, que se admiram, se apoiam, se sentem. Não é preciso estar “lado a lado”. É preciso estar dentro.

Amor quando é junto, é intenso, em dobro, maiúsculo, alegre... Nada mais importa no momento do encontro em um. Somente a vontade de se olhar, sorrir, conversar, se entrelaçar.

Amar não é sofrer. É poder. É ser. E crer que tudo vai dar certo. Que a hora vai chegar, que as mãos dadas serão mais frequentes e sinceras.

Amor quando é amor, não precisa de exposição, de aprovação pública ou “honras públicas ao mérito”. Amor quando é amor é entre dois, que por si só se bastam.

 Como nos diz Fabrício Carpinejar,

“Liberdade na vida é ter um amor para se prender. É aquela vontade danada de andar de mãos dadas durante o dia e de pés dados durante a noite”.






Que seja leve...




Não sei que graça ou desgraça é essa de necessitar escrever tudo o que sinto. As sensações vêm na minha cabeça e ficam “martelando” até encontrarem um caminho: o computador, a agenda, o celular...

Escrever é uma forma de autoamor. 

Nada mais é do que emprestar a própria atenção a si mesma. É o olhar para dentro, e enxergar o que tem de mais íntimo e criativo dentro de si. Já ouvi por aí que “escrever nos poupa idas ao psiquiatra”. Bem por aí...

Eu tenho um ano inteirinho para me emprestar a vocês. Escrever e reescrever tudo o que estiver sentindo ou imaginando.

Pouparei idas ao psiquiatra. E espero que - com isso - leve alegria e amor com muita poesia a todos vocês.

2014 começou. E que seja leve!



Metrô





Naquele dia, sentada na cadeira de espera do metrô, aquela senhora veio, segurou a minha mão e disse que você viria. Eu não sabia quem era você. Você não existia, não respirava. Não te sonhava. Nem te esperava. Só uma louca romântica acreditaria que um estranho enviado de outro planeta iria pousar perto e nunca mais querer ir embora. Eu tive medo de imaginar que você poderia ser real. O amor não existia, e nem poderia ser sonhado em uma tarde à espera do metrô.

Meus pés estavam fincados no chão. Dali não sairia. Dali ninguém me tiraria. Todas essas histórias de amor ridículas, contadas por filmes ridículos de autores ridículos não existiam. Tudo mentira. Balela. Ninguém sairia de nenhum lugar do mundo e viria me salvar daquele mundo em preto e branco a troco de nada, nem de todo amor que eu pudesse doar.

Então voltei a ler o meu livro cheio de teorias em “como escrever um artigo”. Artigos sobre histórias reais, de passados distantes, no qual não havia espaço para frases melosas e românticas e idiotas. Todas as palavras grifadas daquele livro não consistiam em saudades, estar junto ou o amor da vida. Amor da vida não existia. Teorias sim. Realidade também. Não se podia sonhar por um amor à espera do metrô.

Talvez não devêssemos mesmo sonhar por um amor que vá largar tudo para te ver. Que faça você se sentir a única. A mais bonita. A mais inteligente. Aquela que vale a pena abraçar por uns segundos. Sem sonho, sem apego. Sem sofrimento.

Sem sofrimento, mas também sem saber como seria depois de tantas esperas e datas adiadas olhar nos olhos desse tal amor que veio de outro planeta para te salvar.

Sem apego, mas também sem sentir a respiração ofegante daquele que largou tudo para te dar amor. E fazer você se apegar, e se entrelaçar, e desesperadamente não acreditar que ele realmente existia.

Sem sonho, mas também sem sentir o coração aquecido. Mesmo que ele congele depois. Mas passar a vida sem saber que esperar o metrô e sonhar com o amor da vida é tão mais lindo do que só enxergar duas cores ao seu redor...

Eu me permiti sair do preto e branco e enxergar o colorido de dentro do fundo dos teus olhos. Eu me apeguei naquela música daquele filme romântico idiota que de tão idiota me fez suspirar. Eu suspirei e eu gostei de suspirar e sonhar. Eu não senti medo de estar daqui a um mês ou cinco anos sem você. Eu não senti medo de sofrer. Eu só queria viver aqueles dias. Eu só queria te guardar por toda vida. Até em outras vidas se fosse possível.

Já marquei encontros com você daqui a vários séculos. Já fiz pactos com os deuses do amor para que nada nessa vida te leve para longe de mim. Já fiz planos pra daqui a dez anos. Planejei nossas férias para algum lugar que tenha a nossa praia e o nosso pôr do sol, mais ou menos daqui a uns vinte anos...

Fiz todos esses pactos, planos e delírios em uma tarde, à espera do metrô. Dias depois de você ter vindo e me tirado do preto e do branco. 

Você me salvou...











Calma




Um dia isso tudo vai ser acalmar. Não costumo prever o futuro, mas sei exatamente o que irá acontecer: Vamos nos falar todos os dias, e dizer que nos importamos sempre. Quando eu sentir saudades – no meio do meu dia atribulado – olharei para dentro de mim, acredite, você está aqui, como ninguém nunca antes esteve. Irei frequentar os lugares comuns, tomar três chopes e brindar em sua homenagem. Eu brindo daqui. Você daí.

Qualquer dia brindaremos juntos. Vamos rir daquelas bobeiras que insistem em apertar nossos corações e que nos fazem perceber o quanto somos importantes um para o outro. Eu vou te contar todos os meus segredos, olhar nos seus olhos e me sentir segura. Vamos entrelaçar nossas almas mais uma vez, cada vez mais. Vamos cumprir o que já estava traçado antes mesmo de nós dois respirarmos. Fomos/Somos feitos um para outro.

Um dia isso tudo vai se acalmar. Tudo vai pegar fogo. Vai ter o dia a dia. O café, o almoço e o jantar. Vai ter o silêncio, mas saberemos que o outro estará ali, a poucos metros de distância. Ao alcance da alma. 

Terá calma. Alívio.

Dúvidas





Talvez eu não seja tudo o que você queria. Talvez. Eu gosto disso. Não gosto de certezas entre nós. Eu preciso e quero te prender comigo pela minha capacidade de te causar dúvidas.

Certeza do meu amor, só entre nós. A dois. Em um.

Você sempre diz que precisa de mim. E que nós fomos feitos um para o outro. Que somos almas gêmeas. Que o destino e as coincidências nos uniram.

Mas entre nós nunca haverá certezas. Porque o nosso amor é movido pela nossa curiosidade um no outro: O que eu faço. Com quem você anda. Pelo que nós suspiramos?

O motor do nosso amor é a nossa individualidade, que de tão individual termina nas longas conversas movidas a informações e cumplicidades que não compartilhamos com ninguém. É natural: eu termino o meu dia em você. Meus medos. Meus sonhos. Minhas frustrações. Meus desejos.


Nem toda a certeza do mundo me faz acreditar que tudo isso é para sempre. Mas todas as dúvidas me dão a dimensão do quanto tudo isso será eterno. 

Desconhecido







No fundo sempre sonhamos em encontrar alguém que supere toda a nossa existência. Alguém que vai nos fazer perder noites frias de sono e vai nos acompanhar, mesmo que em pensamento, em dias quentes de verão, em frente ao mar ou em frente ao ponto de ônibus.

Lá fora existe alguém que não conhecemos ainda. Um desconhecido que gosta das mesmas músicas que a gente, lê os mesmos livros e tem o senso de humor que combina com as nossas gargalhadas. Não necessariamente nessa ordem.

No fundo, no fundo... sempre queremos alguém para ligar no final do dia. Alguém para dizer “vem para mim”. Por trás de toda essa modernidade vazia de casais instantâneos, o que queremos mesmo é dividir o controle remoto e ser o “friozinho no estômago” de alguém.




Mistura





Eu não costumo dizer a frase batida de “quem se define se limita”. Eu me defino sem me limitar porque sou uma mistura de um eterno querer. E eu quero tantas coisas que não cabem em mim, mas que sempre encontro espaço para guardá-las dentro dos meus sonhos.

Sou tudo o que vivi e que ainda irei viver.

  
Eu sou aquele telefonema inesperado. Sou a risada dentro do mercado porque não consegui achar a sessão de detergentes. Sou o dormir até mais tarde. Sou o silêncio e falação fora do comum. Sou meus livros na estante. Sou o tênis colorido e o óculos escuro que não sai do meu rosto. Sou os choros noturnos. Os filmes de comédia romântica que estragam a minha vida, mas que não consigo deixar de ver. Sou a guitarra que grita nos meus ouvidos. E as músicas românticas que me dão a dimensão do quanto sou uma "boba".


Sou os shows de Rock que me arrasam – nos pés e nos bolsos – mas que me dão a sessão de liberdade que sempre desejei. Sou conversas na calçada. Sou um dia de sol. Sou praia. Sou minhas corridas matinais. Sou meus jeans rasgados. Sou meus fones de ouvidos. Sou um sorriso inesperado. Sou minhas piadas sem graça. Sou a minha insistência no ser humano. Sou mãe. Sou mulher. Sou romance. Sou amor. Sou paixão. Sou temperamento forte. Sou do contra. Sou trabalhar por amor. Sou a professora. Sou a tia. Sou meus textos. Sou desabafo. Sou saudade. Sou Botafoguense. Sou sonhadora. Sou míope. Sou insônia. Sou louca, maluca beleza. Sou a mistura do que é certo e do que é errado. Sou amiga dos meus amigos. Sou coração. Eu sou o que escrevo. Sou o que eu digo. 

"Eu nasci para ser feliz. Não para ser normal".

Sonho





Essa noite sonhei com você. Foi estranho, porque desde o dia em que você se foi eu nunca mais sonhei com você. Eu lembro que meses antes de você ir, eu sonhei com você uma semana inteira. Todas as noites. Diversos sonhos.

Na verdade parei de sonhar com você porque pedia sempre para não sonhar com você. Bloqueei você da minha mente desde o dia em que você se foi e eu não estava lá para dizer “então até um dia”.

Saber que parte da minha vida se encerrava ali era dolorido demais para acreditar que aquele nosso cotidiano está guardado comigo e eu  não vou mais poder me aconchegar no seu colo e relembrar os “melhores momentos de nossas vidas”.

As pessoas que te conheceram mais nova, me acham parecida com você. O olhar, o jeito, a aparência física. E às vezes eu fecho os olhos para fixar a sua imagem na minha memória e fotografa-la para nunca mais esquecer que você se parece comigo e eu pareço com você.

Nem sei onde quero chegar com esse texto. Na verdade eu sei. Eu não quero chegar. Quero voltar. Quero voltar para os primórdios da minha infância e te ver novamente, mais uma vez, fazendo o meu café da tarde e, após isso, dizer para todo mundo que “eu não almocei direito, mas o meu lanche da tarde me reforça”. Ou ver você me defendendo de alguma peraltice e do qual “eu nunca tinha culpa de nada”.

Talvez você apareceu no meu sonho para dizer “que nem tudo está perdido” ou que “viva e deixe viver”. Eu sei por que você apareceu. E eu sei que não estou sozinha nessa vida.





Alma







Chuva, café e um clima frio no primeiro dia do mês de março. O pensamento vai longe. Conto os pingos que caem e se amontoam na janela do quarto. Nenhum desses pingos é igual, penso eu com os meus botões. Ser igual para que mesmo?


As grades da janela transmitem a estranha sensação de aprisionamento. Mas nem as grades, nem a sensação estranha e nem a tarde chuvosa e fria conseguem conter os pensamentos que, livres por natureza, correm de encontro ao que me faz bem.

Os dias têm sido intermináveis e rotineiros. Os afazeres e os compromissos me consomem. Os problemas diários também. Não tem para onde correr. Tem que ficar e resolver. Mas ai de mim ou de nós, meros mortais, se não existissem as lembranças e a capacidade de nos transportar aos momentos que nos preenchem e que, em dias chuvosos e frios como os de hoje, nos fazem carinhos na alma.

A sensação de bem estar vem com um dia de sol. Uma simples espera por um café na padaria. Mas não é qualquer café. Tem o café, os carros passando, e a moça que passa com o filho logo cedo, e aquele senhor que não tem dias cheios, mas que, mesmo assim, passa apressadamente para algo ou para alguém. Peço um suco, e fico admirando as pessoas que vem e vão. E de repente, meu café da manhã se transforma em risos e sorrisos. E o vazio preenchido.

Eu gosto de tomar o tal café na padaria. E gosto de andar pela rua como se ela fosse somente nossa. Gosto de almoçar no mesmo lugar e dizer que eu não sei cozinhar aquela comida. Gosto de ouvir você falando e fazendo planos. E eu me dou conta de que eu quero ouvir você falando e fazendo planos, em todos os almoços em que eu puder te ver comendo e falando ao telefone ao mesmo tempo.

Eu quero o café. O almoço. E a tarde de sol na praia. Eu quero mãos dadas. Eu quero te olhar e pensar que você é uma criança grande e descobrir que, apesar de tanta escuridão e confusão que teimam em nublar os meus dias, você ainda é aquele dia de sol que me acompanha e aquece a alma.


Meio fio




Equilibrando para não cair. Juntando os pedacinhos. Com calma e serenidade. Mantendo o equilíbrio porque nesse mundo de gente "coerente" e "cheia de si", a necessidade de parecer uma lady - quando tudo está desmoronando- é essencial .

Mantenha a calma, não desça do salto e seja dissimulada ao ponto de não mostrar a ninguém suas fraquezas de mulher autossuficiente e independente. Ora bolas! Você já passou dos trinta precisa demonstrar o mínimo de maturidade em diversas situações. Dê exemplos.

Que se dane.

Eu só quero o meu cantinho no lado direito da cama. E quero ouvir as minhas músicas em um loop eterno até adormecer e esquecer que o dia foi cheio demais para sonhar. Eu queria um lugar nesse mundo em que eu não ouvisse a frase de “você se expõe demais”. Quem diz que eu me exponho demais nem imagina que eu tenho o meu lado predileto no sofá e desligo todos os telefones. Tento me esconder quando esse mundo resolve triturar o meu coração.


Eu quero alguém para dizer “que tudo bem você ser assim engraçada num dia e mal-humorada no outro”. E “que tudo bem que você não teve tempo de ser a mulher mais admirável do mundo”.


E que tudo bem, apenas.

Adulta






O apartamento é como costumam dizer por aí: “apertamento”. Se eu colocar a geladeira na cozinha eu não consigo colocar o fogão. Então a geladeira vai ficar - como nas casas de antigamente - na sala. E daí? Dizem que é legal crescer e virar adulta enquanto tem um monte de gente duvidando da sua capacidade. Jeito cruel de se viver.

O quarto é minúsculo e o banheiro é frio. E o chuveiro não tem água quente. Tá queimado. Tem que trocar. Quem sabe uma sequência de banhos gelados possa curar toda a ressaca que a vida me proporcionou até então? Tudo é válido quando o silêncio ensurdecedor bate à sua porta toda noite.

Enquanto isso eu durmo em posição fetal. Como que numa desesperada vontade de voltar ao ventre da minha mãe e começar tudo de novo. Em que momento eu errei? Tem como mudar? Aí eu cubro a minha cara com o lençol porque a luz do quarto me incomoda.

Eu não apago a luz. Se eu apagar a luz do quarto é como se nada mais se iluminasse. Estou no meu escuro existencial. A luz do quarto me dá a segurança que eu preciso naquele momento. Vai ficar acesa até eu dormir.

A televisão é ruim. Quanto tempo eu vou ter que ficar vendo programas de televisão cheios de “fantasmas” nas imagens? Eu já tenho “fantasmas” suficientes que me atormentam desde a infância. Então eu vou para a sala e levo o edredom, o travesseiro e o livro que eu cismei de ler e que não tem nada a ver com a minha vida de agora. E por vezes, eu invejo a personagem do livro.

Eu odeio essas coisas de “você vai dar a volta por cima”, “depois da tempestade vem a bonança”, “você vai sair dessa”. Estou procurando “o dia depois da tempestade faz tempo”. Procuro também o “pote de ouro no fim do arco-íris”. Não existe. Vai crescer. Vai virar adulta. Ver todo mundo te virar as costas. Ver sua caixa de email vazia. E o seu telefone sem tocar.

Para virar adulta você tem que se alistar ao exército e ir para a guerra. E não se esqueça de voltar viva. Mas não se preocupe, se você não conseguir, vai ter medalha de honra ao mérito e muita gente vai dizer, quando não for mais preciso, o quanto você era “especial”, “cheia de vida” e “inteligente”.

Para virar adulta tem que ter decepção. Choro. Banho gelado. E diversas olhadas no espelho do banheiro para “treinar” sua cara de felicidade e autossuficiência do dia seguinte.

Para virar adulta você tem que fechar a porta do apartamento várias vezes. Olhar na janela para ver se tem alguém esquisito na rua. Fazer chocolate quente e não dividi-lo com ninguém.

Para virar adulta você tem que ser cúmplice do seu medo e finalmente apagar a luz do quarto.

Não







Eu não acredito em amores infinitos. Amores à primeira vista. Não acredito que alguém vá me querer eternamente e que vá me amar mesmo que eu seja a pessoa mais dramática e insuportavelmente exagerada do mundo. Não espero que alguém me jure salvação desse mundo melancólico. Não espero ligações ao fim do dia e nem “bom dias” por sucessivas manhãs.

Não me ame. Não me espere. Não peça para ir até você. Não me queira. Não me deseje nem por um segundo. Não diga que eu sou linda no final do dia. Não seja romântico e não me queira sempre por perto. Não me jure amor eterno. Não me seduza ao ponto de só querer seus beijos e seus olhares.

Não quero você aos meus pés. Não quero loucuras de amor. Não quero presentes. Não quero ligações longas, risadas e muito menos conversas ao pé do ouvido. Não quero segurar a sua mão enquanto eu espero o jantar. Não quero que você prometa me fazer feliz.

Não quero promessas. Ilusões. Sonhos acordados e planos para o futuro. Não me prometa o “para sempre”. Não diga que eu sou a única ou a preferida. Não me mostre músicas que lembrem nós dois. E por favor, não sorria com o sorriso mais lindo do mundo, enquanto eu me derreto por dentro, e diga que vai ficar tudo bem.

Tantos motivos para não sentir nem um milímetro desse sentimento patético e ao mesmo tempo mais poderoso do universo. Tantos motivos para não permitir a existência dessa loucura que é senti-lo, alimentá-lo, cultivá-lo. Mas ele insiste em ficar. Insiste em insistir.

Mas daí eu vou me enganar mais uma vez de que eu não preciso de nenhuma promessa sua. Vou fingir que eu nem te amo mais, como se não te amasse sempre... E num belo dia, numa conversa banal, você diz que o nosso “amor estava escrito nas estrelas”.

E a partir daí - às gargalhadas - eu transformo todos esses “Nãos” em “SIM”.








Eu sou






Exagerada. Dramática. Pensativa. Interativa. Música. Rock. Livros. Filmes. Estudos. Trabalho. Insistente. Persistente. Risos. Muitos Risos. Sou os amigos que eu tenho. As piadas que conto. Choros. Silêncio. Barulhos. Extremos. Olhares. Dúvidas. Certezas. Guitarras. Shows. Sol. Verão. Praia. Mar. Cabelos ao vento. Jeans. Camiseta. Tênis. Óculos escuros. Mais futebol do que novela. Intuição. Paixão. Amor. Passional. Ansiedade. Sorriso. Cumplicidade. Saudade. Fé. Esperança. Boba. Olhos fechados. Corrida. Desenhos. Criança. Mãe. Mulher. Amiga. Abraço. Conversas intermináveis. Professora. História. Família. Botafoguense. Textos. Blog. Sonhadora. Provocadora. Contramão.  Socialista. Recomeço. Transformação. Metamorfose.


Não quero uma vida pequena. Meus exageros não cabem dentro de uma ordem. Estou nesse mundo para sentir. E tenho dito.

Drama






Se fosse possível, eu guardaria esse amor em uma caixa bem bonita para que ele nunca desaparecesse. Mas daí vem imediatamente a vontade de guardar você só para mim e assim você nunca ir embora. Nunca. Mesmo que eu esteja dramática demais para você aturar.

Preciso te falar que eu intensifico o meu drama com você. Meu amor por você é um texto dramático de uma novela mexicana. Muito choro. Muito drama. Muito amor. Suspiros.

Descobri que eu preciso de um manual de sobrevivência desse amor. Do qual não faço a mínima ideia de como controlar. Eu tento, sabe? Mas a minha parte dramática não me deixa comprar um pão na padaria sem olhar a frase bonita de amor colada na parede e não pensar em você. Puro drama.

Talvez não sejamos perfeitos juntos. E daí? Você me faz rir. Sorrir. E você me faz fechar os olhos várias vezes ao dia e sorrir novamente. Eu quero ser imperfeita ao seu lado. Eu quero sempre encontrar o seu olhar quando eu precisar ser olhada por você. Eu quero esse segundo de perfeição, no meio da imperfeição dos meus dias.

Acho que no fundo, bem no fundo, eu não nunca quis ser perfeita para você. Eu quero sempre que você me queira “consertar”. E infinitamente me moldar. Quem sabe assim você nunca vá embora. Quem sabe assim, na insistência da minha imperfeição misturada com certas horas de sorrisos e olhares perfeitos, eu te tenha sempre por perto. 

A sua mão






Em uma tarde de chuva você me deu a mão. A sua mão. A sua tão esperada mão. Algo tão simples, mas tão sublime para quem sabe o que isso representa: O dar as mãos. O se doar as mãos. O segurar das mãos.




Você me deu a mão e eu não precisei de mais nada. Mais nada além da sua mão na minha. Sentindo a chuva. E a inevitável hora de ir embora. Mas nada mais importava porque eu desfilei ao seu lado de mãos dadas. Entrelaçadas. Enroladas. Nossas mãos.

No final de tudo. Por trás de todos esses amores moderninhos, e descolados, e espalhafatosos, e desnecessários... No final de tudo, eu só queria andar de mãos dadas. Sentir-me acolhida. Importante. Um cuidado que nem todos têm. Que nem todos são. Que nem todos irão experimentar na sua essência.

Você me deu a mão. E eu ri. Por fora. Por dentro. Eu ri pelos olhos. Olhei todas aquelas pessoas na contramão e desejei que elas também tivessem alguém – como você – para segurar as suas mãos do jeito que você segurou a minha.

Você me deu a mão, e isso foi amor.



Eu não preciso de você





Eu não preciso de você. Não preciso. Não preciso para nada. Nem para acordar, para levantar, para trabalhar e muito menos para sobreviver. A minha vida não depende de você para seguir o seu rumo.

Eu não preciso. Mas quero precisar. Aliás, eu não preciso de você nem para pagar as minhas contas, mas preciso de você me acompanhando na fila do banco. Eu não preciso de você para trabalhar, mas preciso receber a sua ligação no decorrer do meu dia. Não preciso de você nem para fazer um café pela manhã, mas tomá-lo ao seu lado é o melhor da vida.

A minha cara de sono tem mais beleza se você puder olhá-la – e lembre-se – não preciso de você para dormir e nem para acordar. Não preciso de você para ser feliz. Mas a minha felicidade com você ao meu lado se completa.

Não preciso de você para esboçar um sorriso, ou dizer uma piada. Mas o meu sorriso com você se ilumina e a piada fica muito mais engraçada. As minhas músicas preferidas já existiam antes de você, nunca precisei de você para ouvi-las, mas depois da sua presença a melodia ficou mais bela e os solos da guitarra ficaram mais perfeitos.

Eu sei que eu não preciso. Também sei que o fato de eu não precisar e te querer sempre por perto é a demonstração do quanto você é essencial – não por uma questão de sobrevivência - mas por uma questão de amor.

Precisar de você eu não preciso. Mas querer precisar de você é a minha escolha.