Não







Eu não acredito em amores infinitos. Amores à primeira vista. Não acredito que alguém vá me querer eternamente e que vá me amar mesmo que eu seja a pessoa mais dramática e insuportavelmente exagerada do mundo. Não espero que alguém me jure salvação desse mundo melancólico. Não espero ligações ao fim do dia e nem “bom dias” por sucessivas manhãs.

Não me ame. Não me espere. Não peça para ir até você. Não me queira. Não me deseje nem por um segundo. Não diga que eu sou linda no final do dia. Não seja romântico e não me queira sempre por perto. Não me jure amor eterno. Não me seduza ao ponto de só querer seus beijos e seus olhares.

Não quero você aos meus pés. Não quero loucuras de amor. Não quero presentes. Não quero ligações longas, risadas e muito menos conversas ao pé do ouvido. Não quero segurar a sua mão enquanto eu espero o jantar. Não quero que você prometa me fazer feliz.

Não quero promessas. Ilusões. Sonhos acordados e planos para o futuro. Não me prometa o “para sempre”. Não diga que eu sou a única ou a preferida. Não me mostre músicas que lembrem nós dois. E por favor, não sorria com o sorriso mais lindo do mundo, enquanto eu me derreto por dentro, e diga que vai ficar tudo bem.

Tantos motivos para não sentir nem um milímetro desse sentimento patético e ao mesmo tempo mais poderoso do universo. Tantos motivos para não permitir a existência dessa loucura que é senti-lo, alimentá-lo, cultivá-lo. Mas ele insiste em ficar. Insiste em insistir.

Mas daí eu vou me enganar mais uma vez de que eu não preciso de nenhuma promessa sua. Vou fingir que eu nem te amo mais, como se não te amasse sempre... E num belo dia, numa conversa banal, você diz que o nosso “amor estava escrito nas estrelas”.

E a partir daí - às gargalhadas - eu transformo todos esses “Nãos” em “SIM”.








Eu sou






Exagerada. Dramática. Pensativa. Interativa. Música. Rock. Livros. Filmes. Estudos. Trabalho. Insistente. Persistente. Risos. Muitos Risos. Sou os amigos que eu tenho. As piadas que conto. Choros. Silêncio. Barulhos. Extremos. Olhares. Dúvidas. Certezas. Guitarras. Shows. Sol. Verão. Praia. Mar. Cabelos ao vento. Jeans. Camiseta. Tênis. Óculos escuros. Mais futebol do que novela. Intuição. Paixão. Amor. Passional. Ansiedade. Sorriso. Cumplicidade. Saudade. Fé. Esperança. Boba. Olhos fechados. Corrida. Desenhos. Criança. Mãe. Mulher. Amiga. Abraço. Conversas intermináveis. Professora. História. Família. Botafoguense. Textos. Blog. Sonhadora. Provocadora. Contramão.  Socialista. Recomeço. Transformação. Metamorfose.


Não quero uma vida pequena. Meus exageros não cabem dentro de uma ordem. Estou nesse mundo para sentir. E tenho dito.

Drama






Se fosse possível, eu guardaria esse amor em uma caixa bem bonita para que ele nunca desaparecesse. Mas daí vem imediatamente a vontade de guardar você só para mim e assim você nunca ir embora. Nunca. Mesmo que eu esteja dramática demais para você aturar.

Preciso te falar que eu intensifico o meu drama com você. Meu amor por você é um texto dramático de uma novela mexicana. Muito choro. Muito drama. Muito amor. Suspiros.

Descobri que eu preciso de um manual de sobrevivência desse amor. Do qual não faço a mínima ideia de como controlar. Eu tento, sabe? Mas a minha parte dramática não me deixa comprar um pão na padaria sem olhar a frase bonita de amor colada na parede e não pensar em você. Puro drama.

Talvez não sejamos perfeitos juntos. E daí? Você me faz rir. Sorrir. E você me faz fechar os olhos várias vezes ao dia e sorrir novamente. Eu quero ser imperfeita ao seu lado. Eu quero sempre encontrar o seu olhar quando eu precisar ser olhada por você. Eu quero esse segundo de perfeição, no meio da imperfeição dos meus dias.

Acho que no fundo, bem no fundo, eu não nunca quis ser perfeita para você. Eu quero sempre que você me queira “consertar”. E infinitamente me moldar. Quem sabe assim você nunca vá embora. Quem sabe assim, na insistência da minha imperfeição misturada com certas horas de sorrisos e olhares perfeitos, eu te tenha sempre por perto. 

A sua mão






Em uma tarde de chuva você me deu a mão. A sua mão. A sua tão esperada mão. Algo tão simples, mas tão sublime para quem sabe o que isso representa: O dar as mãos. O se doar as mãos. O segurar das mãos.




Você me deu a mão e eu não precisei de mais nada. Mais nada além da sua mão na minha. Sentindo a chuva. E a inevitável hora de ir embora. Mas nada mais importava porque eu desfilei ao seu lado de mãos dadas. Entrelaçadas. Enroladas. Nossas mãos.

No final de tudo. Por trás de todos esses amores moderninhos, e descolados, e espalhafatosos, e desnecessários... No final de tudo, eu só queria andar de mãos dadas. Sentir-me acolhida. Importante. Um cuidado que nem todos têm. Que nem todos são. Que nem todos irão experimentar na sua essência.

Você me deu a mão. E eu ri. Por fora. Por dentro. Eu ri pelos olhos. Olhei todas aquelas pessoas na contramão e desejei que elas também tivessem alguém – como você – para segurar as suas mãos do jeito que você segurou a minha.

Você me deu a mão, e isso foi amor.



Eu não preciso de você





Eu não preciso de você. Não preciso. Não preciso para nada. Nem para acordar, para levantar, para trabalhar e muito menos para sobreviver. A minha vida não depende de você para seguir o seu rumo.

Eu não preciso. Mas quero precisar. Aliás, eu não preciso de você nem para pagar as minhas contas, mas preciso de você me acompanhando na fila do banco. Eu não preciso de você para trabalhar, mas preciso receber a sua ligação no decorrer do meu dia. Não preciso de você nem para fazer um café pela manhã, mas tomá-lo ao seu lado é o melhor da vida.

A minha cara de sono tem mais beleza se você puder olhá-la – e lembre-se – não preciso de você para dormir e nem para acordar. Não preciso de você para ser feliz. Mas a minha felicidade com você ao meu lado se completa.

Não preciso de você para esboçar um sorriso, ou dizer uma piada. Mas o meu sorriso com você se ilumina e a piada fica muito mais engraçada. As minhas músicas preferidas já existiam antes de você, nunca precisei de você para ouvi-las, mas depois da sua presença a melodia ficou mais bela e os solos da guitarra ficaram mais perfeitos.

Eu sei que eu não preciso. Também sei que o fato de eu não precisar e te querer sempre por perto é a demonstração do quanto você é essencial – não por uma questão de sobrevivência - mas por uma questão de amor.

Precisar de você eu não preciso. Mas querer precisar de você é a minha escolha.







Tudo fora




Ninguém me conhece. Ninguém sabe realmente o que eu sinto. Acham que sabem, mas não. Essa gente que se diz solidária não enxerga um palmo a sua frente. Não enxergam. Não sentem. Não percebem nem se alguém esfregasse um punhado de sentimento no nariz.

Cansada dessa gente que diz que tudo passa. Que temos que nos reerguer. Não é fácil se reerguer quando se tem o peso do mundo nas suas costas. O peso do mundo inteiro. O peso do mundo inteiro e o peso de gente chata, opressora e hipócrita junto.

Eu quero vomitar tudo. Colocar tudo pra fora. Tudo fora. Toda essa gente fora. Toda essa gente que acha que sabe o que está dizendo. Cansada dessas frases feitas, vazias e iguais, que saem da boca de gente vazia e igual.

Eu não quero ser igual. Eu não preciso ser igual. Eu nunca fui igual. Eu não quero fazer parte da corrente inexpressiva de gente inexpressiva.

Cansada dessa gente que te promete todos os amores do mundo. Mas não te enxerga. Não te entende. Não te sente. Não vê que você está implorando uma atenção. Um olho no olho. Merda de amores prometidos. E confusos. E passageiros. E que te deixa vazia. E igual.

Eu quero tudo fora. Tudo fora. Todos esses amores iguais. Indiferentes. E autossuficientes. E autoconfiantes. E igualmente vazios e iguais.

Cansada desses amores que te exigem uma confiança. Quando na verdade o amor é inseguro. E não me venham com essas frases feitas sobre amor. Não há amor verdadeiro sem o ridículo. Não há amor verdadeiro sem se mostrar. Não há amor verdadeiro sem dizer que ama 50 milhões de vezes por dia. E que se dane ser piegas. Que se dane. E que se dane, mais uma vez. O amor não é igual. O amor é o diferente da vida.

Eu quero tudo fora. Todos esses amores controlados. E milimetricamente demonstrados. Eu quero fora esse vazio de coisas não ditas. Eu quero tudo fora. Tudo fora. Eu quero fora a dúvida. Eu quero fora a espera. Eu quero fora. Tudo fora.















Pedestal







Eu tenho um turbilhão de sentimentos presos dentro de mim que eu não entrego para ninguém. Ninguém jamais conseguiu tirar todos os fantasmas que existem dentro de mim. O lance de subir num pedestal e orquestrar toda uma vida com o ar de ser superior ao amor alheio. O lance de ser superior. O lance de não doar nenhum milímetro de amor que existe dentro de mim e no alto do meu pedestal: Não fui. Não dei. Não entreguei.

Eu fui um mendigo ao contrário. Eu vaguei pelo mundo eu não pedi. Eu não pedi amor de ninguém. Eu não implorei. Eu não quis ser ajudada. Eu não quis sentir o que o resto do mundo ao meu redor sentia: aqueles lances de amor. Eu não quis o amor de ninguém, simplesmente porque eu não acreditava no amor de ninguém. O lance do pedestal, da superioridade, da indiferença. Eu me protegi. Eu não quis.

Dia após dia vários amores alheios surgiram e imploraram o amor que ficava em cima do pedestal. Não dei. Não pedi. Eu não quis. Não acreditava em pessoas gentis. Em príncipes encantados – e continuo não acreditando.

Mas algo mudou. O salto quebrou. Os olhos se voltaram para baixo e o pedestal ficou tão alto e tão vazio. O lance de estar no alto e não ser atingida não tinha mais propósito. O querer ser atingida. Ficar na mira. Descer. Pedir. Implorar. Sentir tudo o que se teve medo de sentir a vida toda. Eu desci do pedestal e entreguei tudo o de melhor e de pior para alguém que nunca pediu nada para mim.

Aí eu tento empurrar as minhas “ofertas”: “Me leve, me ame, me olhe. E me ame por tudo o que for mais sagrado. Tá ‘barato’. Amor igual a esse você não vai encontrar em nenhum outro lugar. Esse amor caiu bem em você. Leve, leve, leve, leve, me leve, me suporte, me entenda, me ame, não me devolva para o pedestal”.

E no meio de tudo e de todos, por mais egoísta que isso possa parecer, entreguei o meu amor a quem eu quis. Não a quem me pediu. A quem me implorou. E sigo fazendo ofertas diárias desse amor por puro medo de voltar à minha “superioridade amorosa” de milhões de metros quadrados vazios.
























O amor chegou



O amor chegou. O AMOR com letras garrafais está aqui. Dentro de mim. E nada nesse mundo me fará desistir dele. Não haverá distância, dificuldades e muito menos cara feia. Nada nesse mundo me fará desistir de sentir esse AMOR em maiúsculo.

Não importa se eu não estava esperando. Não importa se eu tinha outros planos. Não importa. Ele chegou. Eu não tive tempo de me preparar, de arrumar o cabelo, de parecer mais bonita. Ele chegou e pronto.

Invadiu a minha vida. Invadiu meu coração. Apresentou o inferno e o paraíso. Chegou com um turbilhão de sentimentos. Reviravolta. Terremoto. Ternura. Doçura. Calmaria. Suspiros. Sorrisos fora de hora. Saudade. Admiração. AMOR.

Amor multiplicado. Eufórico. Forte. Inseguro. Louco. Diferente. Acelerador de batimentos cardíacos. Amor bobo. Cúmplice. Discreto. Inconsequente. Amor sem igual.

O amor chegou. Tímido. Sorrindo. Educado. Singelo. Transparente. Despretensioso. Inteligente. Delicado. Impulsivo. Engraçado. Apaixonante.

O amor chegou para ser chamado de meu. Apenas para ser chamado de meu...



Eu não quero te odiar





O futuro é logo ali. E eu tenho medo de você não estar presente nele. Eu tenho medo de que tudo que eu ame vá embora. Talvez porque eu já tenha percebido que crescer é perder um pouco as coisas: pessoas, inocência, esperança, amor...

Mas eu tenho medo de você não estar comigo daqui a dez anos. Daqui a um mês. Eu morro de medo de você não estar comigo semana que vem.

Eu tenho medo porque o amor ficou descartável. Medo de ser trocada, como aquela moça que foi substituída por outra, na foto daquele casal que eu tanto admirava. E não tinha duas semanas que “ela” trocava juras de amor com “ele” pela rede social.

Fiquei com medo de ser trocada igual. Igual a uma amiga que foi trocada semana passada. Igual àquela outra que chorou ao telefone por não ter quem ela queria por perto. E também aquela vez quando eu tinha doze anos e vi uma moça chorar em frente ao meu colégio, e era por alguém. Eu tinha doze anos e não entendia por que alguém chorava daquele jeito por outra pessoa. E naquele dia eu disse pra mim mesma, aos doze anos, que eu nunca iria chorar por alguém daquela maneira.

Naquele momento eu parei de acreditar que tudo era para sempre. Principalmente os amores. E que príncipe encantado não existia porra nenhuma. Eu tinha doze anos e comecei a construir os meus “muros” naquela hora.

Só que agora, depois de muito tempo, eu sinto medo ser a próxima a chorar a ida de alguém. Eu tenho medo de chorar por você. Eu tenho medo de te odiar porque você foi embora. E eu não queria te odiar. Eu não quero motivos para te odiar. Não quero falar mal de você para ninguém. Não quero motivos para te largar e nem para você ir embora. E eu não quero que você vá. Nem hoje. Nem nunca.

Eu voltei aos doze anos, e estou dizendo praquela menina em frente ao colégio que não adianta construir os seus “muros”, porque os “muros” não são imunes ao que chamamos de “amor”. Não adianta se proteger a vida toda. Um dia nós iremos chorar, ou pelo menos ter medo de chorar por alguém.

E por mais que eu chore. E por mais que você vá embora. Eu não quero que você vá embora me magoando. Eu não quero mudar o que eu sinto por você. Eu não quero trocar a beleza do meu sentimento pelo amargo da ida.

Mesmo que tudo isso não dure para sempre. Mesmo que acabe mês que vem. Eu não quero que nada destrua o que eu sinto por você. Eu não quero te odiar.
















Que a verdade seja dita








As pessoas não suportam ninguém de verdade. A verdade dói. Alguém de verdade dói. As pessoas preferem te olhar de cima para baixo. De baixo para cima. E tudo fica muito melhor assim. Ser de verdade dói. Repito: ser de verdade dói.

Se você é de verdade, você vai ser rotulado de descontrolado. As pessoas querem o controle. Você não pode demonstrar o mínimo de carinho ou amor ao próximo. As pessoas que, odeiam alguém de verdade, se ofendem. Os frustrados se ofendem. Os frustrados criam conspirações para suas palavras. Para os seus gestos. Para a roupa que você usa. Para um papel no chão que você pega. Os frustrados são frustrados. E não tem escolha. Escolha temos nós, os de verdade.

Os frustrados descontam suas frustrações amorosas em coisas banais. Eles se incomodam. Incomodam-se com a sua verdade. Com a sua transparência. Ser transparente ofende aos frustrados. Você precisa ser reto. Firme. Os frustrados agradecem.

Se você é de verdade, você com certeza será julgado, pelos frustrados. Se você é bonito, feio, rico, pobre, bem sucedido: Você nunca vai prestar, os frustrados se ressentem.

As frustradas no amor se ressentem com mulher “bonita” que dê “sinais de vida”. Elas se mordem. Porque não conseguem segurar alguém de verdade. Frustram-se. Incomodam-se. Engolem. Sim, engolem. Porque quem é de verdade não se incomoda. Quem é de verdade não liga para ressentimentos, frustrações, rancores.

Os frustrados na vida reparam a vida alheia. Reparam o que você fala. O que você faz. O que você produz. O que você escreve. Se você fala pouco, não tem cultura. Se você fala muito, é invasivo. Se você se mostra, é oferecido. Se você se fecha, é vazio.

Os frustrados não se decidem. Até porque eles estão muito preocupados em exaltar suas “ações” do que tomar uma decisão: se te amam, ou te odeiam.

Ser de verdade dói. Qualquer gesto é milimetricamente acompanhado pelos frustrados. Os frustrados acham que sabem da sua vida. De quem você gosta. De quem você deseja. Por quem você sofre. Pra quem você se oferece. Mas na verdade, os frustrados não sabem. Eles apenas vomitam a suas conspirações medonhas. Vomitam a derrota, a falta de amor, a falta de vida, a atenção que não recebem...

Ser de verdade dói. Os frustrados se ressentem.



Saudade






Sentir saudade é sempre pela primeira vez. Você pode ter sentido milhões de vezes em toda a sua existência, mas nunca vai ser igual. Eu senti saudade ontem. Senti anteontem. Senti há dez, vinte, trinta dias. Senti diariamente por todos esses dias. A saudade vem e bate o seu ponto como uma registradora automática.

Mas a minha saudade de hoje é primeira. É maior. Mais sufocante do que a de meses atrás. E sentir saudade vai ser sempre essa história de levar um soco na boca do estômago. E dói. E me acompanha. Machuca. Eu fujo, mas ela sempre aparece na minha frente, ou pelos lados, ou por dentro, ou por todos os poros da minha pele.

A saudade sempre aparece nas risadas altas dos meus amigos. Nas ruas lotadas de gente estranha e fechada. E no garçom que se esqueceu de trazer a conta. E no trânsito que estava insuportável. E na chuva fina de outono. E no filme dos anos 80. E naquela música. E naquela outra música. E naquela milésima música. E naqueles minutos antes de dormir. E naqueles minutos depois de acordar. E no despertador que toca. E a cara da saudade que eu arrasto infinitamente pelo meu dia atribulado e em todas as coisas chatas e estressantes que insistem em gritar e me mostrar que o que torna tudo muito, muito chato é a ausência...

E ninguém está nem aí para o que eu sinto. Ninguém. Tantos e tantos problemas que envolvem coisas muito mais sérias, e tristes, e infinitamente desgraçadas, e insuportavelmente bizarras, e justamente mais importantes e urgentes, e a camada de ozônio, a corrupção, e a crise na Europa, e as causas ambientais, os tsunamis, as decisões do STJ, e salário mínimo, as injustiças mundanas e tantos, tantos e muitos tantos outros problemas universais e urgentes e primeiros.

Mas saudade é egoísta. É inoportuna. A saudade não está nem aí se a água do planeta está acabando. Se o síndico do prédio aumentou o condomínio. Se há milhões de coisas importantes para fazer. Se há contas para pagar. A saudade ri dos meus problemas. Ela chega a qualquer lugar, a qualquer hora e está pouco se importando sobre os problemas mundiais. Ela está preocupada em me preencher do sentimento impotente que é senti-la. Ninguém liga. A saudade não liga. O mundo inteiro está girando. E a saudade está girando em torno do meu umbigo e insistentemente me faz olhar para ele. E eu olho. E eu me torno uma pessoa egoísta preocupada somente em satisfazer essa saudade egoísta que me torna a mais egoísta das egoístas do bairro, da minha cidade, da face da terra e de todos os planetas descobertos e desconhecidos.

Mas ninguém liga. Quem liga que eu ando com uma tatuagem de saudade no peito? Cheio de você. Cheio dessa vontade de matar essa saudade da maneira mais pura e inocente do mundo: apenas te olhando.

Olharia por horas. Por dias. Eu olharia até me encher de você. Infinitamente te olharia. Sem parar. Eu te gravaria. Tatuaria nos meus olhos, para nunca mais sair. Para nunca mais ir embora. Para nunca mais precisar encher meus dias vazios de milhões de coisas para suprir o abismo dentro de mim. Para nunca mais precisar escutar músicas melancólicas e para nunca mais precisar fechar os olhos pra te procurar.





Vazio







Por mais que o seu dia seja rodeado de amigos muito empenhados em te fazer sorrir, o seu sorriso não é como o de quando você está perto dele. Não é. Não será. Talvez nunca seja.

Esse eterno querer desgraçado que te acompanha. Querer. Querer. QUERER EM MAIÚSCULO. Que não acaba nunca. Nem nas noites mal dormidas, nem nos dias mal acordados. Nem nos dias mal vividos.

É um sufoco do tamanho de um universo inteiro sentir esse vazio de mil vazios. Vazio que não para. Que não preenche. Que não te deixa nem por um minuto.

O maior suicídio que você pode cometer na sua vida é colocar suas expectativas amorosas em um único ser humano, sabe? Humanos falham. Enjoam. Sentem que não há mais graça em nada que te rodeia. E eles se fecham. Calam-se. E você percebe que entregou seu coração de bandeja para ser esmagadinho com a mão esquerda. Ou direita, sei lá.

O amor é esse eterno vazio. Vazio de desencontros. Vazio de pares errados. Vazio de silêncios premeditados. Vazio de recuos estratégicos.

Nós sempre queremos o “para sempre”. Mas o “para sempre” é pesado demais. O “para sempre” é perigoso demais. O “para sempre” é irresistível...

Pois eu te falo que eu te amaria com a dor de mil anos. Milhões de anos. De milhões de “para sempre”. Exageradamente “para sempre”. Compulsivamente “para sempre”.

Nunca se é forte o suficiente para resistir. Mesmo que o “para sempre” não exista. Mesmo que essa história toda de “felizes para sempre” seja apenas demonstrações manjadas de comédias românticas. Nunca se é forte para resistir. Nunca.

O amor nos torna previsível




Previsível. Absolutamente previsível igual a todo mundo. Ou igual a ninguém. É isso. O amor nos torna previsível. Lamento informar, mas nós somos as pessoas mais patéticas do mundo quando se trata de amor. Como já dizia Cazuza “o amor é o ridículo da vida”. Ridículos, previsíveis, patéticos.

Você vai “descer do seu pedestal” e vai dar o braço a torcer de que está amando alguém loucamente. Vai rir às 05:30 da manhã na mesma intensidade que às 2 da madrugada. Vai olhar pro seu celular umas cem vezes como se a pessoa - objeto do seu desejo - fosse se transfigurar e se materializar na sua frente. Vai andar na rua na contramão de todo mundo lembrando-se do último encontro e vai olhar pro celular mais uma vez, a milésima talvez.

Vai achar o dia mais bonito. O seu trabalho mais importante. E você vai perceber que nem é tão ruim ser considerado “patético” pelos outros. O amor é patético. Porque tem que ser assim. Não existe a racionalidade “nessas coisas de amor”. Coloca na gaveta a razão. Não serve mais. Porque o que você menos vai precisar é ser racional quando sentir suas pernas tremerem e seu coração disparar quando estiver diante do seu olhar preferido. E vai haver um olhar preferido sim. Um abraço preferido. Um lugar preferido. Um toque preferido. Um jeito de beijar preferido. Um número de celular preferido. Um tom de voz preferido. Um cheiro preferido. Um amor único e preferido.

Você vai se tornar um estúpido previsível. Vai sentir ciúmes de coisas insignificantes. Mas vai entender que o ciúme é muito menor do que o medo de perder. O medo de perder é que vai te fazer ganhar algumas tantas noites sem sono. E vai lembrar que nem tudo na vida é como deveria ser, certinho. E nada é. Mas não vai desistir só por causa da dificuldade, porque o que está em jogo é viver o resto do que te resta sem o seu olhar preferido. E como se vive sem olhar todos os dias o seu olhar preferido? A gente aprende.

Aprende porque a distância existe. E a saudade é bem mais insuportável do que imaginávamos. E vamos ser ridículos porque vamos invejar outras pessoas que estão sendo olhadas pelo seu olhar preferido, estão sendo abraçadas pelo seu abraço preferido, e estão ganhando a atenção que era para ser sua. Mas o que é o amor sem uma dose certa de sofrimento? Sem a dose certa de insistência? Sem os exageros que teimamos em exagerar ainda mais?

O que é o amor sem o ridículo, sem o patético, sem o estúpido. E se não for para tirar seus pés do chão. E se não for para desejar aquele famoso “que seja infinito enquanto dure” misturado ao “e viveram felizes para sempre” não é amor.









O dia da chuva


Ela descobriu que não está segura. Que tudo pode mudar na sua vida sem dó nem piedade. E ela intimamente quer isso. Quer que tudo desmorone na sua cabeça e da dos outros. Ela não quer mais se esconder no seu mundinho encantado e rosa.

Ela descobriu que o seu mundinho encantado e rosa, não é tão encantado e rosa assim. Que o mundo grande e cruel pode ser mais seguro do que várias décadas em um casulo morno, protegido e confortável.

Descobriu que tudo tem hora para chegar. E que tudo pode chegar a qualquer hora. E ela nem teve tempo de se preparar. Mas ela já sabe que vai perder noites de sono pensando em como irá lidar com os turbilhões de sentimentos que estão por vir.

Ela descobriu que viver de verdade dá medo. Que viver de verdade dá frio na barriga. Viver de verdade a deixou vulnerável ao choro. Ao amor que não teve hora para vir e nem para ir. Aos problemas intermináveis que não cabem em qualquer gaveta. Mas ela precisa resolver um por um. Mas cadê a sensatez quando se está congelando por dentro? Quando se está estupidamente tapando os ouvidos enquanto a realidade bate a sua porta? Ela se pergunta.

Ser real dói. É confortável ser personagem de ficção. Mas ela enjoou do rosa. Deu náuseas. Apesar de seu mundo ser encantado e rosa, ela aprendeu a gostar do mundo real e colorido. Igual aquele dia de chuva que ela se encantou como se fosse um dia de sol. Ela passou a gostar da chuva. Do cinza. Do arco-íris que ela viu depois daquele banho de chuva.

Ela percebeu que agora quer todos os dias de chuva e de arco-íris depois da chuva. Ela quer a realidade que a chuva trouxe, e as trovoadas, e os pés na lama, e o cabelo embaraçado porque não deu tempo de arrumar, e o riso solto lembrando do dia da chuva.

Ela não quer mais o seu casulo confortável. E nem dias lindos de sol. E nem bailes de princesas. E nem dia certo para viver. Nem hora marcada para ver a chuva. Ela quer a realidade cinza, colorida, e do rosa misturado a todas as outras cores. Porque assim fica mais bonito. Porque assim fica mais divertido.

Porque isso é viver de verdade. Porque tomar banho de chuva nem é tão ruim assim. Porque se molhar, e se jogar, e não ter medo de nada, e se estrepar, e quebrar a cara, e sentir falta, e encarar a realidade, e sentir um medo danado de viver, é melhor do que achar que se está vivendo. E isso ela não quer mais.







Imperfeita?



Eu não sou a mulher inatingível quanto gostaria que fosse. Eu sinto até o último suspiro. Um simples mal entendido. Um mal estar. Um “to nem aí pra você” me deixa estirada no chão. Sou uma pessoa vulnerável a tudo: amor, distância, injustiça. Sou qualquer. Sou igual.

Eu não sou tão poderosa no alto do meu salto quanto acham por aí. Eu sinto permanentemente as ausências da minha vida. Eu choro. Eu xingo. Eu sinto raiva de quem julga sem me conhecer.

Eu não sou tão misteriosa quanto gostaria de ser. Eu não sei ter meio termos quanto se trata de amor, de amizade, de raiva, da vida... Eu não sou a mulher misteriosa, controlada, incompreensível quanto gostaria que fosse. Eu sou alguém que conta a sua vida em segundos em um simples telefonema. Ou sabe da vida de todo mundo porque foi feita para ouvir os problemas alheios.

Eu até tento. Tento ser a princesa moderada no seu vestido rosa e com laço de cetim no cabelo. Eu tento ser a moça educada que aceita de braços cruzados toda a merda que esse mundo se transformou. Eu tento ser alguém equilibrada e educada quando se trata de (in) diferenças.

Mas não dá, sabe? Princesas já existem demais por aí. Mulheres perfeitinhas demais também – as famosas “sonsas”. Eu preferi ir pelo caminho mais difícil. Eu resolvi ir contra a fila pré-moldada antes da minha existência. Eu não consigo ser “uma”. Eu sou várias. E cuido de todas “elas” muito bem.

Sou aquela que vai rir em restaurante caro sem etiqueta nenhuma. E que vai comer em uma pensãozinha chinfrim do jeito mais chique que se pede. E que não vai ter vergonha de morar no subúrbio, mesmo tendo cara de quem mora na Zona Sul. Mesmo parecendo a “patricinha” que todos acham que eu sou, continuarei comprando roupas em lojas de departamentos, ou roupas em lojas de grife que estão na promoção. Porque essa sou eu. Várias em uma. Uma em várias.

Não tenho vergonha em quem me transformei. Eu não tenho vergonha de ficar horas em uma fila de ônibus. Eu não tenho vergonha de dizer que eu não tenho carro. Que pechincho o táxi. Ou que simplesmente vou à praia de ônibus.E não tem vergonha de ser piegas. De acreditar em Deus...

 

Por favor, não me peça para me desculpar se eu te ofendo com a minha “pouca” ganância da vida. E também não tente me impedir de rir da sua cara quando você perceber que eu não sou a mulher elitizada que você idealizou. Eu sou alguém que respira a vida, com todo o gás carbônico que ela me oferece. Não sou a princesa do alto da torre esperando salvação. Eu já me salvei de toda a morbidade humana.




Despedidas



Desde criança sempre odiei despedidas. Nunca consegui dizer “adeus” para ninguém. Nunca. Eu tenho pavor de ver alguém que amo indo embora. Também nunca cogitei a idéia de deixar alguém para trás. Odeio despedidas. Odeio aquele acelerado quem vem lá do fundo do coração. Odeio a sensação de impotência de saber que você pode chorar rios de lágrimas, mas a pessoa que você ama tem que ficar ou ir.

Viver não é para os fracos. Tem que ser muito forte para suportar a dor da ausência de alguém. A dor de ter que ir – sem olhar para trás – sem saber quando verá aquela pessoa novamente. Acredito que a ausência das pessoas que amamos nos fortalece nessa vida. Qualquer outra dor é mera dor comparada àquela dor da hora em que você queria estar dentro de um abraço de alguém: seja mãe, pai, amigos, da sua avó, de um amor (qualquer pessoa IMPORTANTE). Repito: Não há dor maior do que a dor daquela hora silenciosa em que nos perguntamos o porquê de estarmos tão longe das pessoas que amamos.

Odeio despedidas.