Entrelaçadas




Há um tempo atrás pernas entrelaçadas não aqueciam o coração dela. Arrisco a dizer que a sensação de liberdade - durante muito tempo procurada e almejada - não fazem mais sentido.


Houve um tempo em que a vida era mais simples sem "bom dia" ou "boa noite". Mas agora ela corre atrás das complicações que essas saudações podem causar.

Até certo tempo viver para si era mais seguro do que viver para dois. Hoje em dia - em pleno dia - ela faz planos para o próximo fim de semana e para a vida.


Assim, tudo misturado, meio torto, meio complicado. 


No meio desse furacão todo, as pernas entrelaçadas dão a dimensão exata do que ela quer: ter a liberdade para se prender a alguém. 

Alguém que nunca lhe pediu nada. E que apenas deixou ela chegar e ficar.

Até outro dia o "querer ficar" ao lado de alguém que nunca exigiu “o ficar” era uma afronta: "Tanta gente pede, por que ele não?". 

Decidir entrelaçar as suas pernas a alguém que a deixava ir embora, mas que ao mesmo tempo pedia para ficar, foi a decisão mais insana da sua vida.

Mas qual sanidade existe nessas coisas de amor e de se entregar ao outro? Nenhuma.

Ela então resolveu pular... no escuro, sem paraquedas, sem certezas, sem dias e horários. Sem horas marcadas ou juras de amor.

Um dia de cada vez. Cada dia mais um pouquinho. Procurando um a perna do outro no meio da noite só para ter a certeza que o outro ainda está ali.