Sinto-me como alguém que ficou em coma durante 20 anos e não sabe onde está e em que mundo está vivendo.
Então eu grito: “Parem o mundo eu quero descer...”
Não sei mais o que acontece. Não sei mais se é melhor chover ou se é melhor derreter ao calor escaldante no verão.
As notícias me atemorizam, tantos as corriqueiras referentes a um assaltante de galinhas até as catástrofes como a recente no Haiti. Mas o que mais me deixa “aliviada” por ora, é o fato de que nada mais absurdo poderia acontecer. Nada mais pode chocar-me aos ouvidos ou aos olhos ou aos dois juntos. Em tempos em que jornalista ri do povo descaradamente na televisão, em tempos em que o dinheiro público é guardado na meia, em tempos que a palavra panetone nunca foi tão comercializada e ridicularizada em pleno Natal. Nada mais me chocaria. Nada.
Com esse sentimento de que nada mais poderia acontecer neste mês, ao menos, deparo-me com um vídeo onde a teoria de “toda desgraça para pobre é pouca” se ratifica.
Assistam ao vídeo clicando no link abaixo para entender melhor a minha indignação.
Para quem ficou com preguiça de assistir ao vídeo ou não teve tempo, eu explico:
Em entrevista ao Jornal do SBT, o Cônsul Haitiano George Samuel Antoine, não percebendo que a câmera estava ligada, num papo “descontraído” vomita a seguinte declaração sobre os acontecimentos no país onde ele é o represente de seus compatriotas [!]:
“Desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui ficar conhecido. Acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo. O Africano em si, tem maldição, todo lugar que tem africano tá f*...”
Analisando ao vídeo tenho algumas indagações:
1-É pegadinha, a pessoa que me mandou esse vídeo sabe que situações como esta deixam-me IRADA
2-Esse senhor não é um Cônsul Haitiano e sim, alguém que após ter ingerido substância ilícita por demais, invadiu aos estúdios de TV e fez tais declarações infames.
3-Ele é Cônsul sim, falou aquilo sim e nós todos aqui é que somos o tal “povo amaldiçoado” (já que africano é um povo amaldiçoado, o que somos nós brasileiros descendentes de tal raça?)
Na minha humilde opinião e até onde eu saiba, para se conseguir um cargo de Cônsul é necessário amplo conhecimento do seu país e acima de tudo ter amplo conhecimento intelectual. Não sei se o Sr. George Samuel Antoine passou direto na matéria de História ou se leu algum livro de Antropologia, o que me parece a primeiros olhos é: Ele não é ignorante. É pior, ele é pré-conceituoso.
Dizer que o povo africano tem maldição é igual dizer que “favelado” é culpado da violência no Rio, ou que índio é preguiçoso porque fugiu da escravidão, ou que daqui a pouco vai tremer tudo aqui no Brasil já que está cheio de descendente africano por aqui, o bastante para colocar muito prédio de luxo abaixo (mas não vem ao caso).
O Haiti é um dos países mais pobres do mundo, condenado a viver muito tempo sob a “desgraça” da ambição do homem europeu nos séculos XVII e XVIII, vive hoje com 80% da sua população abaixo da linha de pobreza. Sendo o primeiro país da América a conquistar sua independência, não sabia que o pior ainda estaria por vir:Massacrado pelas guerras civis, misérias, doenças, furacões e agora mais recente, terremoto. Se antes a água potável era luxo, tenho calafrios de pensar em como a situação está agora após esta tragédia. Nada foi acrescentado ao Haiti e tudo foi tirado. Uma região que já deu muitos lucros para os seus colonizadores, hoje possui uma economia destroçada e em ruínas. Como em tantos outros que sofreram nas mãos dos imperialistas europeus destinados a tirar tudo das suas colônias sem a mínima pena e com a máxima crueldade.(A foto ao lado é o Haiti antes do terremoto, imaginem agora?)
Quanto ao povo africano. COITADO. Amaldiçoados foram os que tiraram à força mais de quatro milhões de negros de suas cidades para obrigá-los a trabalhar forçadamente em um regime desumano de escravidão e descaso pela sua causa. Considerado sem alma pela sua cor, os negros, eram vendidos como mercadoria barata ou cara nas praças de negociantes de “alma limpa” e “abençoados por Deus” por serem brancos.
Analisando a afirmação “onde tem africano tem desgraça”, o que posso falar é: O continente mais pobre e mais arrasado do mundo é o Africano, estraçalhado pelas políticas imperialistas e desmembrado na época da escravidão, é hoje, o “pobre coitado mundial” que depende de recursos dos poderosos “piedosos” que se “sensibilizam” com a sua causa. Dos trinta países mais pobres do mundo, 21 são africanos. Eis aqui alguns que vivem na mais cotidiana desgraça: Somália, Serra Leoa, Etiópia, Ruanda, Costa do Marfim, entre outros. Cada um com a sua própria história de exploração e degradação social.
O que fica nessa minha enorme reflexão (nunca escrevi tanto) é: O mundo do jeito que está, cada vez mais nos mostra que o homem não honrou o seu compromisso de “amar ao próximo como a si mesmo”.
Cada vez mais somos sugados pela nossa ignorância, ambição, indiferença, crueldade, preconceito, acomodação e tantas outras “qualidades”.
Desde que o mundo é mundo os mais fortes e poderosos arruínam e dominam os mais fracos. Claro que na história mundial há muitos que deram a vida por uma sociedade mais justa e mais humana, com mobilidade social e menos opressiva. E muita das vezes, quando fico nas minhas leituras sobre essa gente, fico imaginando que, se fosse possível encontrar um deles eu perguntaria: “Vocês fariam tudo de novo?” ou “Valeu à pena?”.
P.s. Em sua defesa, o Sr. George Samuel Antoine, diz que foi mal interpretado e que por não saber falar bem o português trocou as palavras. Diga-se de passagem, que o Cônsul mora no Brasil desde 1975. Além de um bom livro de História e Antropologia, ele deveria comprar o novo dicionário da Língua Portuguesa (mas acho que o português dele iria piorar com essas novas regras de tira “hífen”, tira “trema”... enfim)
Socorro São Judas Tadeu!!!!!!!
Aqui vos escreve Juliana Dias ainda com esperança. Afinal, tentar parar o mundo e descer só o
Silvio Brito tentou, e isso foi lá nos anos 70...