Pedestal







Eu tenho um turbilhão de sentimentos presos dentro de mim que eu não entrego para ninguém. Ninguém jamais conseguiu tirar todos os fantasmas que existem dentro de mim. O lance de subir num pedestal e orquestrar toda uma vida com o ar de ser superior ao amor alheio. O lance de ser superior. O lance de não doar nenhum milímetro de amor que existe dentro de mim e no alto do meu pedestal: Não fui. Não dei. Não entreguei.

Eu fui um mendigo ao contrário. Eu vaguei pelo mundo eu não pedi. Eu não pedi amor de ninguém. Eu não implorei. Eu não quis ser ajudada. Eu não quis sentir o que o resto do mundo ao meu redor sentia: aqueles lances de amor. Eu não quis o amor de ninguém, simplesmente porque eu não acreditava no amor de ninguém. O lance do pedestal, da superioridade, da indiferença. Eu me protegi. Eu não quis.

Dia após dia vários amores alheios surgiram e imploraram o amor que ficava em cima do pedestal. Não dei. Não pedi. Eu não quis. Não acreditava em pessoas gentis. Em príncipes encantados – e continuo não acreditando.

Mas algo mudou. O salto quebrou. Os olhos se voltaram para baixo e o pedestal ficou tão alto e tão vazio. O lance de estar no alto e não ser atingida não tinha mais propósito. O querer ser atingida. Ficar na mira. Descer. Pedir. Implorar. Sentir tudo o que se teve medo de sentir a vida toda. Eu desci do pedestal e entreguei tudo o de melhor e de pior para alguém que nunca pediu nada para mim.

Aí eu tento empurrar as minhas “ofertas”: “Me leve, me ame, me olhe. E me ame por tudo o que for mais sagrado. Tá ‘barato’. Amor igual a esse você não vai encontrar em nenhum outro lugar. Esse amor caiu bem em você. Leve, leve, leve, leve, me leve, me suporte, me entenda, me ame, não me devolva para o pedestal”.

E no meio de tudo e de todos, por mais egoísta que isso possa parecer, entreguei o meu amor a quem eu quis. Não a quem me pediu. A quem me implorou. E sigo fazendo ofertas diárias desse amor por puro medo de voltar à minha “superioridade amorosa” de milhões de metros quadrados vazios.
























2 Responses
  1. Ives Says:

    Enfim amar é ser igual, abraços


  2. Ives Says:

    Enfim amar é ser igual, abraços