Eu não quero te odiar





O futuro é logo ali. E eu tenho medo de você não estar presente nele. Eu tenho medo de que tudo que eu ame vá embora. Talvez porque eu já tenha percebido que crescer é perder um pouco as coisas: pessoas, inocência, esperança, amor...

Mas eu tenho medo de você não estar comigo daqui a dez anos. Daqui a um mês. Eu morro de medo de você não estar comigo semana que vem.

Eu tenho medo porque o amor ficou descartável. Medo de ser trocada, como aquela moça que foi substituída por outra, na foto daquele casal que eu tanto admirava. E não tinha duas semanas que “ela” trocava juras de amor com “ele” pela rede social.

Fiquei com medo de ser trocada igual. Igual a uma amiga que foi trocada semana passada. Igual àquela outra que chorou ao telefone por não ter quem ela queria por perto. E também aquela vez quando eu tinha doze anos e vi uma moça chorar em frente ao meu colégio, e era por alguém. Eu tinha doze anos e não entendia por que alguém chorava daquele jeito por outra pessoa. E naquele dia eu disse pra mim mesma, aos doze anos, que eu nunca iria chorar por alguém daquela maneira.

Naquele momento eu parei de acreditar que tudo era para sempre. Principalmente os amores. E que príncipe encantado não existia porra nenhuma. Eu tinha doze anos e comecei a construir os meus “muros” naquela hora.

Só que agora, depois de muito tempo, eu sinto medo ser a próxima a chorar a ida de alguém. Eu tenho medo de chorar por você. Eu tenho medo de te odiar porque você foi embora. E eu não queria te odiar. Eu não quero motivos para te odiar. Não quero falar mal de você para ninguém. Não quero motivos para te largar e nem para você ir embora. E eu não quero que você vá. Nem hoje. Nem nunca.

Eu voltei aos doze anos, e estou dizendo praquela menina em frente ao colégio que não adianta construir os seus “muros”, porque os “muros” não são imunes ao que chamamos de “amor”. Não adianta se proteger a vida toda. Um dia nós iremos chorar, ou pelo menos ter medo de chorar por alguém.

E por mais que eu chore. E por mais que você vá embora. Eu não quero que você vá embora me magoando. Eu não quero mudar o que eu sinto por você. Eu não quero trocar a beleza do meu sentimento pelo amargo da ida.

Mesmo que tudo isso não dure para sempre. Mesmo que acabe mês que vem. Eu não quero que nada destrua o que eu sinto por você. Eu não quero te odiar.
















Que a verdade seja dita








As pessoas não suportam ninguém de verdade. A verdade dói. Alguém de verdade dói. As pessoas preferem te olhar de cima para baixo. De baixo para cima. E tudo fica muito melhor assim. Ser de verdade dói. Repito: ser de verdade dói.

Se você é de verdade, você vai ser rotulado de descontrolado. As pessoas querem o controle. Você não pode demonstrar o mínimo de carinho ou amor ao próximo. As pessoas que, odeiam alguém de verdade, se ofendem. Os frustrados se ofendem. Os frustrados criam conspirações para suas palavras. Para os seus gestos. Para a roupa que você usa. Para um papel no chão que você pega. Os frustrados são frustrados. E não tem escolha. Escolha temos nós, os de verdade.

Os frustrados descontam suas frustrações amorosas em coisas banais. Eles se incomodam. Incomodam-se com a sua verdade. Com a sua transparência. Ser transparente ofende aos frustrados. Você precisa ser reto. Firme. Os frustrados agradecem.

Se você é de verdade, você com certeza será julgado, pelos frustrados. Se você é bonito, feio, rico, pobre, bem sucedido: Você nunca vai prestar, os frustrados se ressentem.

As frustradas no amor se ressentem com mulher “bonita” que dê “sinais de vida”. Elas se mordem. Porque não conseguem segurar alguém de verdade. Frustram-se. Incomodam-se. Engolem. Sim, engolem. Porque quem é de verdade não se incomoda. Quem é de verdade não liga para ressentimentos, frustrações, rancores.

Os frustrados na vida reparam a vida alheia. Reparam o que você fala. O que você faz. O que você produz. O que você escreve. Se você fala pouco, não tem cultura. Se você fala muito, é invasivo. Se você se mostra, é oferecido. Se você se fecha, é vazio.

Os frustrados não se decidem. Até porque eles estão muito preocupados em exaltar suas “ações” do que tomar uma decisão: se te amam, ou te odeiam.

Ser de verdade dói. Qualquer gesto é milimetricamente acompanhado pelos frustrados. Os frustrados acham que sabem da sua vida. De quem você gosta. De quem você deseja. Por quem você sofre. Pra quem você se oferece. Mas na verdade, os frustrados não sabem. Eles apenas vomitam a suas conspirações medonhas. Vomitam a derrota, a falta de amor, a falta de vida, a atenção que não recebem...

Ser de verdade dói. Os frustrados se ressentem.