O dia da chuva


Ela descobriu que não está segura. Que tudo pode mudar na sua vida sem dó nem piedade. E ela intimamente quer isso. Quer que tudo desmorone na sua cabeça e da dos outros. Ela não quer mais se esconder no seu mundinho encantado e rosa.

Ela descobriu que o seu mundinho encantado e rosa, não é tão encantado e rosa assim. Que o mundo grande e cruel pode ser mais seguro do que várias décadas em um casulo morno, protegido e confortável.

Descobriu que tudo tem hora para chegar. E que tudo pode chegar a qualquer hora. E ela nem teve tempo de se preparar. Mas ela já sabe que vai perder noites de sono pensando em como irá lidar com os turbilhões de sentimentos que estão por vir.

Ela descobriu que viver de verdade dá medo. Que viver de verdade dá frio na barriga. Viver de verdade a deixou vulnerável ao choro. Ao amor que não teve hora para vir e nem para ir. Aos problemas intermináveis que não cabem em qualquer gaveta. Mas ela precisa resolver um por um. Mas cadê a sensatez quando se está congelando por dentro? Quando se está estupidamente tapando os ouvidos enquanto a realidade bate a sua porta? Ela se pergunta.

Ser real dói. É confortável ser personagem de ficção. Mas ela enjoou do rosa. Deu náuseas. Apesar de seu mundo ser encantado e rosa, ela aprendeu a gostar do mundo real e colorido. Igual aquele dia de chuva que ela se encantou como se fosse um dia de sol. Ela passou a gostar da chuva. Do cinza. Do arco-íris que ela viu depois daquele banho de chuva.

Ela percebeu que agora quer todos os dias de chuva e de arco-íris depois da chuva. Ela quer a realidade que a chuva trouxe, e as trovoadas, e os pés na lama, e o cabelo embaraçado porque não deu tempo de arrumar, e o riso solto lembrando do dia da chuva.

Ela não quer mais o seu casulo confortável. E nem dias lindos de sol. E nem bailes de princesas. E nem dia certo para viver. Nem hora marcada para ver a chuva. Ela quer a realidade cinza, colorida, e do rosa misturado a todas as outras cores. Porque assim fica mais bonito. Porque assim fica mais divertido.

Porque isso é viver de verdade. Porque tomar banho de chuva nem é tão ruim assim. Porque se molhar, e se jogar, e não ter medo de nada, e se estrepar, e quebrar a cara, e sentir falta, e encarar a realidade, e sentir um medo danado de viver, é melhor do que achar que se está vivendo. E isso ela não quer mais.






9 Responses
  1. Jane Padro Says:

    Cara, muito legal teu texto. As entrelinhas gritam! Muito bom!


  2. Blog da Nana Says:

    Belíssimo texto Ju...Beijao


  3. Sensacional!! Ótimo texto e de ótima forma!! Com certeza ela não deveria querer isso...

    []s


  4. Nelson Says:

    Olá, Juliana! Gostei muito do seu blog: essência e conteúdo na medida certa. Parabéns pelo excelente trabalho. Quando tiver um "tempinho", apareça no meu pequeno espaço; terei o maior prazer em recebê-la. Um abraço!


  5. Estrela mulher

    Hei!
    Linda Estrela!

    Aquela que faz de simples dias
    Dias especiais.

    Que ilumina
    A profunda escuridão.

    Você é a razão da beleza
    Do encanto e da magia.

    Você é a presença da ternura
    Com jeito de atrevida
    Ou com rosto de Anjo.

    Você é uma estrela
    Aos olhos de Deus...

    Linda estrela
    Repleta de Sabedoria
    E compreensão.

    Você sabe seduzir
    Sabe conquistar...

    Sem seu brilho
    A beleza não existiria
    O encanto não seduziria.

    Seus olhos
    Hipnotizam a todos a sua volta.

    Seu sorriso é a arma
    Que acerta o alvo
    Chamado Corações,
    Que facilmente se torna dona deles.

    Porque és um estrela abençoada
    Estrela chamada
    Mulher.

    (Fabiana Thais Oliveira).

    Parabéns Ju!

    beijooo.


  6. ''Ser real dói. É confortável ser personagem de ficção. ''

    isso me doeu como um tapa,sacas?

    bem assim mesmo. e essa chuva? essa chuva que nos alaga e nem sempre sabemos recolher o melhor dela. Se soubessemos... tudo seria fácil e so boring. Sabemos disso.

    Desculpe o sumiço. Meu cérebro anda meio derretido e eu sem ânimo para o blog. Uma amiga minha que tem postado textos que eu já havia escrito...nem isso tenho feito.
    grande beijo.



  7. O Profeta Says:

    O meu pranto escondeu as sílabas de uma palavra
    O meu céu não precisa de Sol para ser azul
    A minha emoção transbordou nesta clara manhã
    Tal como as incontidas águas que correm para sul

    Este Inverno que o meu querer instaurou
    Tem o rosto coberto por densa bruma
    Tem a força de todas as marés esta emoção
    Que devolvi hoje à espuma

    Doce beijo


  8. Ela descobriu que o seu mundinho encantado e rosa, não é tão encantado e rosa assim.
    Já passei por isso, ameii o seu blog!!!
    borboletamaquiada.blogspot.com