Imperfeita?



Eu não sou a mulher inatingível quanto gostaria que fosse. Eu sinto até o último suspiro. Um simples mal entendido. Um mal estar. Um “to nem aí pra você” me deixa estirada no chão. Sou uma pessoa vulnerável a tudo: amor, distância, injustiça. Sou qualquer. Sou igual.

Eu não sou tão poderosa no alto do meu salto quanto acham por aí. Eu sinto permanentemente as ausências da minha vida. Eu choro. Eu xingo. Eu sinto raiva de quem julga sem me conhecer.

Eu não sou tão misteriosa quanto gostaria de ser. Eu não sei ter meio termos quanto se trata de amor, de amizade, de raiva, da vida... Eu não sou a mulher misteriosa, controlada, incompreensível quanto gostaria que fosse. Eu sou alguém que conta a sua vida em segundos em um simples telefonema. Ou sabe da vida de todo mundo porque foi feita para ouvir os problemas alheios.

Eu até tento. Tento ser a princesa moderada no seu vestido rosa e com laço de cetim no cabelo. Eu tento ser a moça educada que aceita de braços cruzados toda a merda que esse mundo se transformou. Eu tento ser alguém equilibrada e educada quando se trata de (in) diferenças.

Mas não dá, sabe? Princesas já existem demais por aí. Mulheres perfeitinhas demais também – as famosas “sonsas”. Eu preferi ir pelo caminho mais difícil. Eu resolvi ir contra a fila pré-moldada antes da minha existência. Eu não consigo ser “uma”. Eu sou várias. E cuido de todas “elas” muito bem.

Sou aquela que vai rir em restaurante caro sem etiqueta nenhuma. E que vai comer em uma pensãozinha chinfrim do jeito mais chique que se pede. E que não vai ter vergonha de morar no subúrbio, mesmo tendo cara de quem mora na Zona Sul. Mesmo parecendo a “patricinha” que todos acham que eu sou, continuarei comprando roupas em lojas de departamentos, ou roupas em lojas de grife que estão na promoção. Porque essa sou eu. Várias em uma. Uma em várias.

Não tenho vergonha em quem me transformei. Eu não tenho vergonha de ficar horas em uma fila de ônibus. Eu não tenho vergonha de dizer que eu não tenho carro. Que pechincho o táxi. Ou que simplesmente vou à praia de ônibus.E não tem vergonha de ser piegas. De acreditar em Deus...

 

Por favor, não me peça para me desculpar se eu te ofendo com a minha “pouca” ganância da vida. E também não tente me impedir de rir da sua cara quando você perceber que eu não sou a mulher elitizada que você idealizou. Eu sou alguém que respira a vida, com todo o gás carbônico que ela me oferece. Não sou a princesa do alto da torre esperando salvação. Eu já me salvei de toda a morbidade humana.