E a vida segue...



Tenho sido muito repetitiva quando falo de sofrimento, dor e de gente humilde que luta pelo seu lugar ao sol. É muito difícil ser esclarecida nessas horas. Queria ser ignorante e fechar os olhos para tudo que vejo. Mas é impossível.

Ver pessoas sofrendo e não sentir nada é como admitir que o meu coração apenas bate. A necessidade de ser humano em algumas horas é da nossa própria essência. Pelo menos da minha.

Eu sempre tive quase tudo o que quis. E minha filha caminha para o mesmo. Claro, meus pais nunca compraram o desnecessário para mim. E se compraram me demonstraram que aquele brinquedo ou aquela roupa custou dinheiro e o suor do trabalho de cada um.

Neste sentido, admiro quem vai à luta pelos seus objetivos. Ganha o pão de cada dia e faz um agrado aos que amam. Mas não admiro quem tem muito e nada oferece. Quem fica na sua redoma de vidro, fingindo que nada está acontecendo e assim segue a sua vida indiferente e [mais que isso] contaminando os que o cerca com a sua indiferença.

É muito fácil dizer que algumas pessoas são demagogas, que apenas falam. Mas se falar muito o incomoda, aqui faço a minha pergunta: O que você fez até o dia de hoje para diminuir o sofrimento alheio? Nem que seja uma dor de cabeça do próximo? Se a resposta for negativa, você precisa rever seus conceitos.

E digo mais, se não abrirmos os olhos, nosso futuro pode ser pior. Pobre nunca teve vez na história mundial. O negro foi massacrado até quando pode ser feito. E muita gente fica abrindo a boca bem grande para vomitar besteiras, dizendo que o pobre no Brasil só quer saber de “esmolas” do governo e que negro é bandido.

Quem lava o teu chão? Quem recolhe o teu lixo? Quem te serve no restaurante? Quem dirige o teu carro? Quem dirige o teu ônibus?

É o pobre negro que limpam a "passarela" para você poder passar!

É muito fácil dizer que não tem preconceito. Que pobre merece mais que um salário mínimo. O difícil é dizer bom dia ao teu porteiro quando você sai do seu prédio de luxo . Difícil é guardar o seu lixo na bolsa, ajudando os garis que vem atrás limpando sua sujeira.

Difícil é engolir alguém tão culto, branco e de olhos azuis e do mais alto calão jornalístico esnobar (e vomitar seu preconceito de classe) ao pobre coitado do trabalhador que, apesar da merda de salário e de varrer o lixo de gente porca na rua, ainda tem ânimo para desejar feliz ano novo. Boris Casoy você sim é uma ver-go-nha!

"Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência" (Essa frase é de um pesquisador que viveu na função de gari por 8 anos em função da sua tese de Mestrado.O psicólogo Fernando Braga sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. ‘Professores que me abraçavam nos corredores da USP, passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão’, diz.)
17 Responses
  1. Jane Prado Says:

    Parabéns!
    É muito importante que alguém GRITE para todo mundo ouvir que todos temos valor, independente do quanto se tem no bolso.

    Deverias escrever um livro sobre as dificuldades diárias do ser humano. O que achas?

    Sucesso e parabéns novamente!


  2. Juliana... é a primeira vez que te visito, mas o que aqui li... tocou-me.

    Só te posso dizer: É preciso, sim... é preciso marcar a diferença, sermos como somos, autênticos.

    Fica bem.
    Se permitires, voltarei.

    Rolando


  3. Tatiana Says:

    A leitura desse texto me fez acordar pra essa realidade, não nego que também nunca enxerguei esses trabalhadores pelas ruas ou praças públicas, já cheguei a jogar papel para que eles apanhassem, afinal ganham para isso…foi quase inconsciente, mas lendo com calma esse texto refleti e acordei - “eu também poderia ser um gari” se tivesse nascido sob outra condição social. As palavras do psicologo Fernando Braga fizeram-me voltar para essa realidade. Amanhã passarei a olhar esses trabalhadores como pessoas e não “coisas”. Vou cumprimentá-los com um saudável “BOM DIA!”. Obrigado pelo momento de reflexão!


  4. Daniel Says:

    Juliana, texto perfeito!
    Eu não conhecia a pesquisa desse mestre da USP. É sem dúvida muito interessante e mostra bem o quanto a nossa sociedade inferioriza os mais pobres. Se souber o nome dele, por favor me passe. Quero conhecer mais a fundo esse trabalho.


  5. Unknown Says:

    Todos nós merecemos o reconhecimento pelo nosso trabalho. Mesmo que seja um trabalho mais humilde.

    Bjs


  6. RAFAELA Says:

    A-do-re-i esse texto!!!!! Muito bom Ju.

    Muitas coisas precisam ser ditas. Sim, sempre pra q um dia entre na cabeça da maioria ou de todos, pq não...


  7. Nunca fui contra nada do que disseste aqui, entretanto, tudo há uma primeira vez....hj, descordo de ti quando disseste que tens sido muito repetitiva. Este assunto nunca é repetitivo, este assunto deve ser tocado, retocado, gritado a todos os cantos do mundo para que, no fim desta batalha, tenhamos : PAZ!

    Incontáveis abraços.


  8. Priscila Says:
    Este comentário foi removido pelo autor.

  9. Priscila Says:

    Que texto perfeito , nos faz pensar bastante .
    Tudo é bem verdade o que disse .
    Que possamos reconhecer o trabalho de todos e valorizar cada um .
    Parabéns de verdade !


  10. Olá Querída Amiga ?
    tudo bem com vc
    assim espero que tudo,....
    desculpe a ausência
    estive lendo seu blogsite e achei muito lindao
    gostei mesmo
    espero que vc dê uma passada lá no meu ok
    e olhe dê sua opnião no que preciso melhorar-lo ok
    espero sua sinceridade ok
    e também espero que sejamos amigos sinceros ok
    Que o senhor nosso bom DEUS
    te abençoe querída
    Beijinhos
    Will


  11. Unknown Says:

    Olá querida!!! Vc se superou nesse texto. Belíssimas palavras!

    Deus te abençoe!


  12. Unknown Says:

    Ju...Esse texto é emocionante...Linda, temos q sempre nos repetir em alguns casos, e neste vc está certíssima!


  13. Adorei o texto.Acho que estas pessoas tinham que term mais reconhecimento pelo seu trabalho ;)
    bjos
    mah


  14. Putz, muito lindo o seu texto! Está de parabéns o Brasil precisa de pessoas como você, merece todo o meu apoio e já estou te seguindo, pois adorei esse lugar..
    Um grande beijo até mais!


  15. O Egoísmo Humano é a mola mestra da indiferença social.
    Altruísmo falta às pessoas. Porém este não deve partir apenas da "boa vontade" do cidadão que, de repente, teve um insight de bondade. Deve-se começar na escola.
    Quem domina o país estuda, obviamente, em escolas caras, onde a concorrência é a essência. Não se ensina valor.
    Recentemente retirei dois filhos de uma escola cara por achar que a convivência com pessoas dessa natureza estivesse causando um prejuízo humano a eles. Começaram a chegar em casa com conceitos ultra-consumistas e preconceituosos. Coloqueio-os numa escola de bairro com bom ensino, pois neste meio poderão ver a realidade da sociedade em que vivem sem o prejuizo da qualidade do ensino.

    A repetição consolida qualquer conhecimento... Se a criança cresce em um ambiente vendo respeito e tolerância, obviamente que propagará esses valores.

    Quem conhece o funcionamento social dos países nórdicos percebe o que estou falando. O humanismo ensinado nas salas é aplicado na fase adulta de uma forma brilhante. Valorizam o ser humano.

    Infelizmente, não sou tão otimista com relação ao futuro. Escrevi um texto em meu blog questionando o porquê de ainda colocarmos filhos no mundo, já que não temos tantas perspectivas assim.

    A Internet que surgiu como a maior difusora de conhecimento de todos os tempos parece que apenas aumentou o abismo entre as pessoas.

    Se com tanto conhecimento disponível, não conseguimos transpor a barreira da indiferença, como então será o futuro de nossos filhos?

    Um forte abraço

    Blog de Um Brasileiro


  16. Aquele comentário foi de uma infelicidade... Pegou horrível para o jornalista. Preconceito, não!!!

    meu carinho
    tais luso


  17. Anônimo Says:

    Adorei teu blog!